Nesta seção são reunidas e analisadas algumas das crenças e mitos alimentares mais comuns relacionados com a alimentação durante o tratamento de câncer, explicando se estão fundamentados ou se, ao contrário, não têm nenhuma base científica firme que os sustente.
Lembrando que, no Brasil, o INCA traz um compilado de informações nesse sentido. Se quiser saber mais a respeito, consulte os links abaixo:
A busca por informação sobre os aspectos alimentares que poderiam ser modificados para combater a doença é uma prática comum após o diagnóstico do câncer. Produtos, formas de cozimento, utensílios, dietas… que poderiam ser prejudiciais ou que poderiam ter um efeito mágico ou milagroso no organismo. Toda essa informação de páginas da internet, livros, revistas e até mesmo de conselhos de amigos ou familiares que ouviram ou leram sobre o tema, pode gerar um excesso de informação e, com isso, sensação de angústia por não saber o que é realmente certo e o que não é. Em alguns casos, termina-se por eliminar da alimentação alimentos imprescindíveis para enfrentar a doença ou, ao contrário, acrescentar alimentos, ervas ou suplementos que podem ser prejudiciais ou que, simplesmente, elevam o custo da alimentação sem nenhuma evidência real de sua eficácia.
Para a elaboração desta seção, realizou-se uma revisão bibliográfica de pesquisas científicas publicadas nos últimos anos e foram consideradas as declarações dos organismos oficiais de segurança alimentar existentes, estatais e internacionais, como a ACSA (Agência Catalã de Segurança Alimentar), a AECOSAN (Agência Espanhola de Consumo, Segurança Alimentar e Nutrição do Ministério da Saúde espanhol); a EFSA (Agência Europeia de Segurança Alimentar); a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos), e a OMS (Organização Mundial da Saúde). Também foram seguidas as recomendações de diferentes institutos, sociedades e associações especializados na pesquisa e difusão de informação relativa à prevenção e ao tratamento do câncer.
No Brasil, o Instituto do Câncer (INCA) disponibiliza manuais sobre as causas e prevenção do câncer com mitos e verdades, e, el documento Dietas restritivas e alimentos milagrosos durante o tratamento do câncer: fique fora dessa!, que podem ser consultados.
Não é necessário eliminar a carne vermelha da alimentação durante o tratamento oncológico. Ainda assim, seu consumo é totalmente opcional.
É um alimento muito mitificado. Sua má fama reside no fato de que o alto consumo de carne vermelha está relacionado a um aumento do risco de desenvolver algum tipo de câncer, especialmente o colorretal. Essa informação foi se modificando até chegar à falsa conclusão de que o consumo de carne vermelha é prejudicial para pessoas que sofrem da doença.
Durante o tratamento e a fase posterior de recuperação, consumir carne vermelha não é prejudicial, já que o consumo de proteína é fundamental para reparar e regenerar os tecidos. A recomendação de consumo de carne é de três ou quatro porções por semana (100-125 g/porção), das quais duas podem ser de carne vermelha, priorizando as partes mais magras, retirando a gordura visível e limitando seu consumo quando se tratar de carne processada. No Brasil, o Instituto do Câncer (INCA) tem recomendação semelhante ao descrever: Se consumir carne vermelha, limitar o consumo a não mais do que três porções por semana. Três porções equivalem a cerca de 350 a 500 gramas de carne vermelha cozida. Consumir pouca ou nenhuma quantidade de carne processada.
O grupo de trabalho da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) concluiu que existe uma associação entre um alto consumo de carne vermelha e processada e o desenvolvimento de câncer colorretal, classificando as carnes processadas como carcinogênicas e a carne vermelha como provável carcinogênica. Ainda assim, não existe nenhum consenso que relacione um consumo moderado com o risco de desenvolvimento de câncer ou de interação durante o tratamento. A carne, sobretudo a vermelha, é uma excelente fonte de proteínas de alta qualidade, zinco, ferro, vitaminas do grupo B e vitamina K.
A recomendação dos especialistas é seguir uma alimentação saudável e equilibrada que inclua o consumo diário de produtos lácteos. Só devem ser eliminados os produtos lácteos da alimentação se houver indicação do oncologista ou do nutricionista do centro de tratamento.
O efeito prejudicial que o consumo de produtos lácteos tem sobre as pessoas em tratamento de câncer é outro dos mitos mais comuns. A origem pode ser a falsa relação entre câncer de mama e o tipo de gordura contida nos derivados de leite. À gordura desse tipo de produto, comumente saturada, sempre foi atribuída uma má reputação.
Durante o tratamento do câncer, a recomendação dos especialistas é seguir uma alimentação saudável e equilibrada que inclua o consumo diário de laticínios (duas ou três porções ao dia), em virtude dos nutrientes que fornecem (proteínas, vitaminas e minerais). Cada pessoa pode perguntar a seu especialista qual é a versão mais adequada para suas necessidades (lácteos integrais, semidesnatados ou desnatados). No caso de intolerância à lactose, pode-se experimentar a tolerância aos laticínios fermentados, como iogurte e queijo, ou, ainda, utilizar laticínios sem lactose. As bebidas vegetais de soja, aveia, arroz ou amêndoa não são nutricionalmente equivalentes.
A evidência científica atual indica que o consumo adequado de produtos lácteos como o leite, o iogurte ou os queijos não está associado a maior risco de desenvolver câncer, tampouco que tenha efeito negativo sobre os tratamentos. Em pesquisas recentes, observou-se que alguns componentes do leite, como o cálcio, a vitamina D e a lactoferrina, poderiam ter um efeito anticancerígeno e diminuir o risco de certos tipos de câncer, como o de mama ou cólon, embora sejam necessários mais estudos para confirmação.
Comer açúcar ou alimentos que contenham diferentes tipos de açúcares de maneira moderada, especialmente procedente das frutas, das hortaliças e dos cereais, e dentro de uma alimentação equilibrada, não tem efeitos prejudiciais para a saúde.
Algumas fontes tiraram do contexto os resultados de pesquisas em que se revela o efeito que o açúcar (glicose) tem no crescimento das células tumorais. Isso provocou a eliminação por completo de todos os açúcares e seus derivados na dieta de muitos pacientes em tratamento oncológico, por medo de “alimentar” o câncer.
O açúcar é um nutriente essencial e pertence ao grupo dos carboidratos, que podem ser simples ou complexos. Dentro dos simples se encontram o açúcar refinado ou de mesa, o açúcar utilizados em doces de confeitaria ou as bebidas açucaradas, que são os que devemos evitar. Entretanto, os açúcares simples da fruta ou os complexos procedentes de cereais, massas ou pães são alimentos recomendados durante o tratamento do câncer porque fornecem energia e ajudam no bom funcionamento do organismo. Os carboidratos fazem parte de uma dieta equilibrada e ajudam a manter um estado nutricional adequado durante o tratamento oncológico. Assim como ocorre na dieta mediterrânea, entre 50-60% da energia diária deve proceder dessa fonte de alimentos.
Nos últimos anos, numerosos autores estudaram o efeito da glicose na reprodução das células tumorais e alguns avaliaram o papel da restrição calórica na biologia celular e molecular do tumor, tanto in vitro como in vivo, em animais. Esse tipo de restrição pode ter consequências não desejadas nos pacientes submetidos a tratamento oncológico, como desnutrição, perda de massa muscular e deficiências nutricionais importantes, que podem comprometer a eficácia do tratamento oncológico. Por tudo isso, as evidências atuais em humanos descartam a restrição de carboidratos na dieta durante o tratamento e estimulam seguir uma dieta equilibrada com aporte suficiente de energia e proteínas.
O consumo moderado de chocolate não tem nenhum efeito prejudicial sobre a saúde das pessoas em tratamento de câncer. Dentro de uma alimentação equilibrada, pode-se incluir o consumo de chocolate, de preferência amargo ou com alto teor de cacau (mínimo 70%), sempre em quantidades moderadas.
A origem do mito, que leva algumas pessoas a eliminar por completo o chocolate da alimentação, poderia estar no fato de que a maioria dos alimentos elaborados à base de chocolate tem altos teores de açúcares e/ou gorduras, e, portanto, de calorias. Seu consumo elevado pode contribuir para o sobrepeso e a obesidade, fatores que podem aumentar o risco de algumas doenças, entre elas, o câncer.
Podemos incluir o consumo de chocolate dentro de uma alimentação saudável e equilibrada. A evidência científica justifica o consumo moderado de chocolate amargo (> 70% de cacau), duas ou três vezes por semana, sem exceder 50 g por semana.
Não existe evidência científica que relacione o consumo moderado de chocolate com um aumento do risco de ser acometido por câncer ou de haver interação com o tratamento oncológico. Durante os últimos anos, estudou-se o possível efeito benéfico que o consumo de chocolate amargo (> 70% de cacau) teria na saúde, por seu elevado conteúdo de polifenóis (de alto poder antioxidante) e outros compostos bioativos, observando-se benefícios no sistema cardiovascular e nervoso.
Atualmente não existe nenhuma evidência que indique que os adoçantes artificiais disponíveis no mercado estão associados ao risco de desenvolver câncer ou que tenham um efeito negativo nos pacientes já em tratamento.
Nas últimas décadas, diversas afirmações associaram o consumo de adoçantes com diferentes efeitos adversos sobre a saúde, entre eles a possível relação com o câncer. Alguns meios de comunicação divulgaram informes casuais ou publicações científicas que podem gerar incertezas em relação à segurança dos adoçantes.
As pessoas em tratamento oncológico podem consumir adoçantes ou alimentos que os contenham com tranquilidade, sempre dentro de uma alimentação equilibrada e em quantidades moderadas.
Os adoçantes artificiais ou de baixas calorias (acessulfame K, aspartame, sacarina…) são ingredientes entre 150 e 600 vezes mais doces que o açúcar; eles servem para adoçar os alimentos, especialmente em dietas de controle de peso ou no caso de pessoas com diabetes. Não existe evidência de que os adoçantes estão associados ao desenvolvimento do câncer. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) verifica sua segurança periodicamente, e define um “E número” caracterizando que o produto foi aprovado e é seguro para o consumo humano, por exemplo E 954 para sacarina. No Brasil, o órgão que regulariza essa situação é a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que também estabelece um código (INS - Sistema Internacional de Numeração de Aditivos Alimentares) para categorizar esse tipo de produto.
Em nenhum caso. A água da torneira, sempre que estiver especificada como água potável, pode se destinar ao consumo humano, tanto para cozinhar como para beber.
Algumas fontes de informação sugerem que consumir água da torneira durante o tratamento não é adequado, já que alguns de seus componentes (flúor, cloro) podem ser nocivos. A origem dessa crença pode surgir de algumas pesquisas publicadas nos anos noventa sobre o aumento do câncer ósseo em ratos que bebiam água com flúor. Ademais, existe a crença popular de que a água da torneira não é boa para beber porque não se conhece sua origem, como é transportada, ou os materiais de que são feitos os canos por onde ela passa.
• Beber água é imprescindível, especialmente para as pessoas que recebem tratamento oncológico. É necessário manter as células do corpo bem hidratadas para que suportem melhor os tratamentos. Recomenda-se assegurar o consumo de cerca de dois litros de água (uns oito copos) diariamente, podendo ser diferente segundo condições ambientais e necessidades específicas e individuais Se o consumo de água da torneira é feito de maneira habitual, pode ser continuado de forma segura durante o tratamento oncológico.
Não existe evidência científica que estabeleça uma relação entre o consumo de água fluorada e a aparição de câncer ou de um efeito prejudicial no tratamento. A fluoração da água é uma medida de saúde pública para a prevenção das cáries dentais. O cloro é acrescentado à água com a finalidade de desinfetá-la de agentes microbianos que poderiam ser prejudiciais para a saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne grupos de cientistas que avaliam os critérios sanitários para garantir a segurança da água de consumo público. De qualquer forma, é importante garantir que exista uma rede de água tratada antes de qualquer consumo de água da torneira.
Sim. O peixe (tanto gordo como magro) e os frutos do mar são imprescindíveis em uma dieta equilibrada e variada. Constituem uma excelente fonte de proteínas, minerais, vitaminas do complexo B (B6 e B12) e vitaminas A, D e E, e a melhor fonte alimentar de ácidos graxos ômega-3.
A origem do mito surge do conteúdo de mercúrio do peixe gordo e dos riscos que seu consumo implicam para a saúde. Algumas fontes defendem o efeito negativo de consumi-lo durante o tratamento do câncer e, portanto, promovem a exclusão total de peixe gordo da alimentação.
O peixe é um alimento indispensável e tem que estar presente de maneira habitual na alimentação das pessoas em tratamento de câncer por seus múltiplos benefícios. Recomenda-se o consumo de peixe de três a quatro vezes por semana, e entre estas, que uma ou duas porções sejam de peixe gordo (sardinha, cavala, manjuba, anchovas, salmão…).
Atualmente, encontramos evidência que aponta um efeito benéfico dos ácidos graxos ômega-3 presentes no peixe gordo durante o tratamento e na prevenção de alguns tipos de tumores. O mercúrio é um elemento que pode causar bioacumulação em algumas espécies predadoras de vida longa como o atum, o peixe-sol, o peixe-espada, a garoupa ou o tubarão. Tanto a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) como a Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição aconselham consumir essas espécies ocasionalmente e recomendam evitá-las nos casos de mulheres grávidas, lactantes e crianças de 1 a 30 meses. O peixe gordo de dimensões pequenas (sardinha, anchova, cavala…) e o peixe magro não acumulam metilmercúrio e, portanto, podem ser ingeridos de forma habitual dentro de uma alimentação equilibrada. No Brasil, segundo a Anvisa, a concentração de mercúrio nos peixes não deve ultrapassar 1,0 mg/kg (peixes predadores) e 0,5 mg/kg (demais peixes e produtos da pesca).
Os recipientes para o armazenamento e a conservação de alimentos aprovados pela União Europeia, dos quais se faça um uso correto, são seguros durante o tratamento de câncer.
Algumas fontes relacionam o uso de recipientes de plástico (por conterem bisfenol A ou BPA) a um aumento do risco de ser acometido por algum tipo de câncer, como o de mama ou o de próstata. Essas fontes certamente são condicionadas pelo fato de que pequenas quantidades de BPA podem migrar para os alimentos e por sua semelhança com a atividade estrogênica.
Toda a população em geral, tanto por motivo de sustentabilidade como de saúde planetária, deveria reduzir o uso de plásticos não recicláveis e, portanto, também limitar aqueles alimentos e bebidas embalados ou cobertos com plástico. Alguns institutos de pesquisa sobre câncer recomendam limitar o uso de produtos com BPA em pacientes com câncer de mama ou outros dependentes de hormônios. Essa recomendação não contraindica as embalagens de plástico desde que sejam utilizadas corretamente; não se devem reutilizar as embalagens não recicláveis nem introduzir no micro-ondas as que não possuem especificação de que são adequadas para isso. Recomenda-se priorizar as embalagens de vidro, tanto para armazenar e conservar o alimento em casa como também para esquentá-lo no micro-ondas.
Desde 1930, sabe-se que o BPA pode imitar o estrógeno, de modo que seus efeitos sobre a fertilidade, a reprodução e o sistema endócrino têm sido objeto de numerosas pesquisas científicas, cujos resultados são analisados com frequência. Na última avaliação da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), em 2015, os especialistas concluíram que não implica nenhum risco para a saúde dos consumidores, uma vez que a exposição ao BPA por meio da dieta foi estimada abaixo do nível de segurança estabelecido. Contudo, em 2021, a EFSA aprovou a proposta da Comissão Técnica sobre a reavaliação do risco para a saúde pública relacionado com a presença de BPA nos alimentos, em que se propõe reduzir, de maneira considerável, o consumo diário tolerável em comparação com sua avaliação prévia de 2015, com base na reavaliação das pesquisas publicadas entre 2013 e 2018, especialmente as que indicam efeitos adversos do BPA no sistema imunológico. . Em 2022 a EFSA disponibilizou uma apresentação que confirma os dados dos anos anteriores com relação ao sistema imunológico e indica, agora mais firmemente, que existe uma razão de risco para com relação a efeitos adversos da exposição do BPA no sistema imunológico A Anvisa produziu um material que contém informações, no modelo de perguntas e respostas, sobre esse assunto e inclusive cita a EFSA como uma das referências. Para saber mais, consulte o link:
Não. O teflon e o resto dos materiais disponíveis no mercado, próprios para cozinhar, são seguros para as pessoas durante o tratamento oncológico.
Algumas fontes apontam o efeito nocivo sobre a saúde dos revestimentos antiaderentes dos utensílios de cozinha, mais conhecidos como teflon, por isso recomendam o uso exclusivo de frigideiras e panelas de porcelana. É possível que a origem do mito se baseie nos gases que se desprendem da frigideira antiaderente ao ser aquecida em excesso a altas temperaturas (350-650° C) e que poderiam se tornar tóxicos em caso de inalação. Essas temperaturas nunca são alcançadas nas cozinhas domésticas.
Não se justifica utilizar exclusivamente utensílios de porcelana como único material seguro para cozinhar durante o tratamento do câncer, podendo-se utilizar, com segurança, quaisquer materiais disponíveis no mercado. Recomenda-se para toda a população, e não só para as pessoas com câncer, que os instrumentos que estão em contato com a comida sejam de qualidade, adequados para cozinhar e que estejam em bom estado, sem arranhados ou outras imperfeições.
Não existe evidência científica confirmada de que os materiais disponíveis para cozinhar (silicone, plásticos, cerâmica, esmalte, vidro, aço inoxidável, ferro, cobre antiaderente e alumínio) tenham efeitos nocivos para a saúde, possam provocar câncer ou interfiram no tratamento, desde que sejam utilizados conforme as recomendações do fabricante. Com relação ao teflon, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) confirma que não existe evidência para classificar o tetrafluoretileno como carcinogênico, portanto, utilizar materiais que o contêm não representa nenhum risco para a saúde. Poderia representar um risco se os utensílios fossem aquecidos em excesso acima dos 350°C, temperatura que não é alcançada nas cozinhas domésticas e que queimaria os alimentos, que não poderiam ser consumidos.
O uso do forno de micro-ondas não representa nenhum risco para a saúde. As autoridades sanitárias avaliam sua segurança há anos e pode ser utilizado diariamente, tanto para aquecer como para cozinhar os alimentos com total tranquilidade.
Existem muitos mitos em torno do micro-ondas e seus efeitos sobre a saúde, especialmente com respeito ao uso e o aparecimento de câncer. A origem dos mitos é consequência da interpretação errônea dos possíveis efeitos sobre as pessoas decorrentes das radiações que tais eletrodomésticos utilizam para aquecer ou cozinhar os alimentos.
Sempre devem ser utilizados recipientes adequados para micro-ondas e não ultrapassar os tempos de cocção recomendados, de modo a não superaquecer os alimentos. Podemos utilizar o forno tanto para aquecer como para cozinhar, o que representa um método de cocção vantajoso em relação ao sistema tradicional: minimiza os tempos de preparo, é limpo e conserva os nutrientes dos alimentos em uma proporção um pouco mais alta que outros procedimentos culinários.
A cocção no micro-ondas não modifica a composição química dos alimentos e tampouco emite uma radiação ionizante. O eletrodoméstico gera ondas que interagem com as moléculas polares do alimento (principalmente a água), gerando movimento, e são os choques com moléculas contíguas que produzem o calor que os cozinha. A segurança das ondas de micro-ondas é endossada tanto pela Organização Mundial da Saúde como pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), e sua suposta relação com o câncer já foi desmentida em 2004 pela Associação Espanhola contra o Câncer.
Alguns compostos que se encontram nos alimentos assados na brasa poderiam ser cancerígenos, mas não existe evidência alguma que relacione esse efeito com um consumo ocasional.
Existe muita controvérsia e discussão sobre o consumo de alimentos assados na brasa, churrasco ou grelha por sua relação com o aumento do risco de desenvolver câncer. Algumas fontes indicam eliminar totalmente da dieta qualquer alimento preparado com essas técnicas.
Atualmente não existe nenhuma indicação concreta sobre qual seria a frequência de consumo desses alimentos durante o tratamento oncológico. Então a recomendação seria a mesma indicada para o resto da população: uso ocasional desse tipo de técnica de preparação, deixar uma distância suficiente entre a brasa e o alimento para evitar que queime e retirar sempre as partes mais negras antes de comer.
Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) e as aminas heterocíclicas (AH) são compostos que se encontram em alimentos (peixe e carne) preparados com essas técnicas ou em alguns defumados. Em alguns estudos observou-se que podem provocar alterações no DNA, formando agentes cancerígenos. Alguns HPA foram classificados como prováveis cancerígenos em humanos pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Além disso, a exposição a níveis altos de AH pode causar câncer em animais (não sendo muito clara a relação com humanos). Mesmo assim, não há evidência suficiente que relacione o consumo ocasional com um efeito prejudicial durante o tratamento de um câncer.
Não é necessário. Comprar alimentos orgânicos é uma opção pessoal, não uma recomendação médica. Por causa do extenso marco regulatório, tanto os alimentos orgânicos como os convencionais podem ser consumidos de maneira confiável.
Muitas fontes de informação, não fundamentadas, recomendam uma alimentação “natural” ou exclusivamente orgânica para as pessoas que têm câncer, de modo a evitar, assim, os resíduos de pesticidas ou antibióticos que podem estar contidos em alguns alimentos convencionais.
Consumir alimentos produzidos de maneira mais sustentável é benéfico para a sustentabilidade do planeta, sobretudo se a produção for local. Recomenda-se, seja qual for a escolha: comprar em estabelecimentos de confiança e qualidade, consumir produtos locais e da época, bem como lavar muito bem as frutas e verduras antes de consumi-las. Comprar alimentos orgânicos será, então, uma escolha pessoal e não uma recomendação. Deve-se destacar que nem todos os alimentos orgânicos serão bons, pois entre eles também há alguns que contêm elevadas proporções de gorduras saturadas, açúcares etc.
Embora alguns estudos indiquem que há maior concentração de determinados componentes interessantes para a saúde nos produtos orgânicos, a afirmação de que estes são nutricional ou biologicamente melhores não é compatível com a atual evidência científica, que, até o momento, não comprovou que sejam mais seguros ou nutritivos que os convencionais. Com relação aos efeitos da ingestão dos alimentos orgânicos ou convencionais sobre a prevenção ou tratamento do câncer, alguns estudos relacionam o consumo de alimentos orgânicos com um menor risco de ser acometido por câncer, mas são necessárias mais pesquisas para poder estabelecer um consenso e uma recomendação concreta.
O alho e outras espécies da mesma família (cebola, alho-poró, cebolinha) contêm algumas substâncias que poderiam ter algum efeito benéfico sobre o câncer, de acordo com testes em laboratório, mas não foi possível confirmar seu efeito em humanos.
O alho tem sido usado desde a Antiguidade para tratar diversas afecções, por suas propriedades antissépticas, fungicidas, bactericidas, depurativas, diuréticas e de melhora da circulação. As propriedades benéficas desse alimento são tantas que chegou-se a falar de propriedades anticancerígenas, mas os resultados disponíveis não fornecem informação precisa e confiável para elucidar se o consumo de alho pode ter efeitos benéficos durante o tratamento.
O alho é um ingrediente comum de nossa cultura culinária, de consumo habitual e totalmente recomendado dentro de uma alimentação equilibrada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo de alho fresco para adultos de 2-5 gramas/dia (1 ou 2 dentes de alho) por suas propriedades benéficas sobre o sistema vascular. O consumo em excesso poderia causar efeitos secundários, como mau hálito, odores corporais fortes, ardor no estômago, náuseas ou vômitos. Da mesma forma, deve-se evitar consumir quantidades elevadas ou em extratos antes e depois de qualquer cirurgia, pois poderia aumentar o risco de sangramento. Assim, seu consumo é opcional e sempre utilizado como um ingrediente a mais na cozinha.
Diversos testes realizados em laboratório observaram que o alho e outras verduras da mesma família contêm alicina e polifenóis, como a quercetina, que poderiam proteger a célula das substâncias que desencadeiam o câncer, reduzir a proliferação celular ou induzir a morte celular das células cancerosas. Mesmo que essas observações mostrem que o consumo de alho pode reduzir o risco de acometimento por câncer, no momento não há evidência científica suficiente para recomendar o alho como um alimento que ajude a tratar o câncer, pois ainda se carece de estudos clínicos em humanos que confirmem tal hipótese.
O consumo de frutas vermelhas é totalmente seguro, mas o fato de que demonstraram-se alguns efeitos sobre a saúde não significa que possam curar o câncer caso sejam consumidas de forma habitual ou excessiva.
A recomendação de consumir frutas vermelhas, tanto para prevenir como para curar o câncer, encontra-se amplamente difundida e é um dos conselhos mais recorrentes quando se fala de alimentação e prevenção ou tratamento do câncer.
Incluir frutas vermelhas em quantidades normais na alimentação é totalmente seguro. A recomendação de consumo de fruta durante o tratamento deve garantir, diariamente, três unidades ou porções de fruta fresca (entre as quais se incluem as frutas vermelhas), o mais variadas possível, já que cada fruta tem propriedades diferentes e benéficas para a saúde. A melhor maneira de aproveitar suas propriedades é consumir as frutas da estação e fornecidas por produtores locais.
As frutas vermelhas ou silvestres (framboesas, oxicocos, amoras, groselhas, morangos etc.) são frutas pequenas, ricas em polifenóis, com um poder antioxidante elevado. Embora atualmente as pesquisas ofereçam resultados promissores, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) indica que não há evidência suficiente que demonstre a efetividade desses compostos no tratamento e prevenção do câncer. Entre as funções que lhes são atribuídas encontram-se: a capacidade de bloquear seletivamente as proteínas que desenvolvem o câncer, interferir na formação de novos vasos sanguíneos próximo dos tumores e em sua progressão; a capacidade antioxidante (captação de radicais livres responsáveis pelo envelhecimento prematuro) e a capacidade para desenvolver mecanismos que induzem a apoptose de células tumorais. A evidência indica que comer frutas vermelhas tem efeitos benéficos, mas essas pesquisas até agora só deram resultados em laboratório.
Para poder verificar se o consumo de chá verde, por seu alto poder antioxidante, tem capacidade de diminuir o risco de desenvolver câncer ou exercer um efeito curativo, ainda são necessários mais estudos em humanos.
Nos últimos anos tem-se falado e escrito muito sobre os efeitos benéficos do chá verde na saúde, dentre os quais se destaca que consumi-lo habitualmente pode prevenir o câncer e também ajudar a curá-lo.
Beber chá verde é uma boa opção para aumentar o consumo de líquidos e proporcionar um bom estado de hidratação, imprescindível em uma pessoa que esteja em tratamento oncológico. Além disso, fornecerá antioxidantes com efeitos benéficos para a saúde. O consumo elevado de chá verde (mais de duas xícaras ao dia) poderia suscitar interações com alguns fármacos utilizados no tratamento, portanto, é necessário consultar um oncologista antes de iniciar o consumo. Deve-se considerar também que contém teína, de propriedades estimulantes, por isso não se recomenda seu consumo antes de dormir ou no caso de insônia.
O chá verde contém uma alta proporção de polifenóis, como a epigalocatequina-3-galato (EGCG), principal responsável por seus efeitos positivos. Pesquisas científicas de laboratório e em animais demonstraram que é um potente antioxidante, com capacidade in vitro para diminuir o risco de desenvolver determinados tipos de câncer, inibir as células tumorais e induzir a apoptose, além de diminuir a angiogênese. Contudo, é necessário comprovar tais efeitos em estudos clínicos em humanos. Como no mercado encontram-se diversos tipos e cada pessoa o prepara de forma distinta, sua funcionalidade está sujeita a diferentes fatores e é necessária muita informação para estabelecer algumas recomendações concretas.
Os efeitos do consumo de sementes de linhaça sobre o tratamento ou a prevenção do câncer não foram demonstrados.
Algumas pessoas em tratamento incluem sementes de linhaça em sua alimentação por terem escutado ou lido sobre seus possíveis benefícios. Existe uma grande quantidade de informação em redes sociais e diversas fontes que afirmam que a ingestão de linhaça pode prevenir e curar o câncer, principalmente o de próstata, pulmão, cólon, reto ou mama.
Embora os possíveis efeitos sobre o câncer não tenham sido demonstrados, o consumo moderado (de uma a três colheradas ao dia) apresenta benefícios sobre o sistema vascular. Integrá-las a uma alimentação equilibrada é seguro e totalmente opcional, mas não uma recomendação médica. Caso opte por consumi-las, podem ser moídas para facilitar a absorção dos ácidos graxos ou deixadas inteiras em caso de constipação. Se quiser ingerir uma quantidade maior, é preciso consultar o oncologista de referência, pois o consumo excessivo pode ocasionar interações com medicamentos. Também é preciso informar seu uso, em caso de câncer de mama hormônio-dependente, por sua capacidade estrogênica.
A pesquisa científica sugere que as sementes de linhaça podem reduzir o risco de câncer por meio das lignanas (compostos polifenólicos com capacidade fitoestrogênica), do ácido linolênico ou dos ácidos graxos ômega-3. Estudos realizados em animais concluem que as lignanas atuam como antioxidantes, e que as sementes de linhaça reduzem a formação, ou o crescimento, ou a propagação de alguns tipos de câncer. Os estudos em humanos são muito limitados e, no momento, não há evidência científica suficiente para recomendar as sementes de linhaça como protetoras ou como terapia durante o tratamento.
Atualmente não existe evidência científica suficiente que confirme que seu consumo durante o tratamento tenha efeitos benéficos sobre a doença, pois faltam ensaios clínicos e estudos da relação dose-resposta.
Nos últimos anos, a curcumina da cúrcuma foi descrita como um dos componentes com mais possibilidade de efeitos benéficos para prevenir e tratar o câncer. Tal fato aumentou o número de fontes que recomendam seu consumo durante o tratamento.
Utilizar a cúrcuma dentro de uma alimentação equilibrada é totalmente seguro. Seu uso tradicional para elaborar pratos, como o de outras especiarias, em princípio, não teria nenhum efeito prejudicial. No caso de um consumo de doses altas, deve-se consultar o oncologista de referência, uma vez que pode interferir em alguns fármacos utilizados na quimioterapia.
A cúrcuma é uma especiaria que contém, em seus rizomas, a curcumina, à qual se atribuem potenciais efeitos anticancerígenos. Em diversos estudos feitos em laboratório e em animais demonstrou-se que apresenta atividade antitumoral e de apoptose em um amplo espectro de células, que possui capacidade antioxidante (que previne a angiogênese, inibindo células cancerosas, retardando o crescimento e a propagação do câncer) e que tem efeito anti-inflamatório nas células cancerosas. Os ensaios clínicos em humanos sobre esses efeitos da curcumina se encontram nas primeiras fases, sendo necessário esperar para saber se ela se tornará um elemento a ser introduzido no tratamento do câncer.
Não se recomenda seguir dietas alternativas, tampouco consumir suplementos alimentares sem que tenham sido prescritos pelo oncologista ou o nutricionista de referência.
A crença do efeito benéfico dos suplementos antioxidantes tem grande popularidade no tratamento do câncer. O consumo de suplementos e a realização de dietas alternativas são práticas muito disseminadas entre pessoas com câncer, que habitualmente decidem por tais condutas sem a prescrição do oncologista responsável, motivo pelo qual podem ser perigosas, ineficazes ou prejudiciais para o tratamento oncológico que se está realizando.
Um estado nutricional adequado é fundamental para fazer frente à doença e seus tratamentos. Por isso é importante consultar sempre a equipe médica de oncologia antes de seguir qualquer dieta ou incorporar um suplemento que não tenha sido prescrito dentro dessa equipe ou centro hospitalar.
Poucos benefícios foram comprovados em ensaios clínicos, e a evidência é insuficiente para avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os perigos do uso de suplementos em oncologia. No mercado existem diversos suplementos de composição e qualidade bastante variáveis, muitos inofensivos e seguros, mas outros podem causar efeitos adversos graves e nocivos, ao interagir com os tratamentos. A evidência sobre dietas alternativas, como os resultados de um estudo publicado na revista Anticancer Research, indica que não contribuem para a melhora do prognóstico do câncer, como também podem comprometer o estado nutricional dos pacientes. Algumas delas se relacionam com a perda de peso, inapetência, constipação ou deficiências de vitaminas, entre outros.
Não. Não existem estudos científicos que tenham relacionado os alimentos transgênicos com processos oncológicos.
Existe a falsa crença de que os alimentos modificados geneticamente, ou transgênicos, estejam relacionados com processos tumorais. Acredita-se que, ao modificar os genes dos alimentos, modificam-se também os genes das pessoas que os consomem, ocasionando, assim, mutações e a geração de possíveis tumores.
A recomendação de seguir uma alimentação saudável e equilibrada baseada no padrão da dieta mediterrânea pode se realizar com a inclusão de alimentos desse tipo, uma vez que a União Europeia garante que seu consumo é seguro. Além disso, as normas obrigam a apresentar no rótulo de a informação de o alimento foi modificado geneticamente e também os ingredientes com organismos modificados geneticamente (OMG) ou produzidos a partir deles. Assim, incluí-los ou não na alimentação será uma opção e preferência pessoal.
Os alimentos geneticamente modificados são aqueles cujo material genético foi modificado usando técnicas modernas de engenharia genética a fim de conferir-lhes uma propriedade determinada, por exemplo, melhorar suas características nutricionais, melhorar deficiências nutricionais populacionais, potencializar seu crescimento ou torná-lo mais eficiente, oferecer resistência dos cultivos a doenças ou pragas, entre outros. A União Europeia garante que seu consumo é seguro antes de sua comercialização, comprovando que não provocam alergias, não transferem material genético nem são resistentes a antibióticos, e também que não ocorrem alterações significativas do ponto de vista nutricional. Até o presente momento, não existem estudos científicos confiáveis, nem evidência que relacionem seu consumo com o aparecimento de tumores ou interferências durante o tratamento.
O consumo moderado de café durante o tratamento de câncer é seguro, embora seu consumo possa ser recomendado ou não, dependendo da sintomatologia ou dos efeitos secundários que vão aparecendo. Por isso é sempre aconselhável consultar a equipe médica de referência.
Por um lado, anos atrás, algumas pesquisas científicas relacionaram o consumo de café com o aumento do risco de desenvolvimento de câncer, em especial, câncer de pâncreas. A torrefação do café, além disso, gera acrilamida, uma substância química com importante controvérsia. Por outro lado, algumas pesquisas mais atuais afirmam que o consumo de café poderia estar associado com uma menor incidência de alguns tipos de câncer, além de outros efeitos benéficos para a saúde. Ambos os fatos geraram questionamentos e dúvidas entre as pessoas em tratamento de câncer.
A evidência não é suficiente para recomendar a exclusão do consumo de café durante o tratamento, portanto, seu consumo será opcional. A recomendação atual indica que um consumo moderado de café pode fazer parte de uma alimentação equilibrada. A EFSA (Agência Europeia de Segurança Alimentar) aconselha não superar o consumo de 400 mg de cafeína ao dia (dose que, se repartida ao longo do dia, não tem efeitos prejudiciais). É necessário considerar que o conteúdo de cafeína dependerá do tipo de café ou da diluição, entre outros fatores, e que, em média, uma xícara de café expresso contém 80 mg de cafeína. Por isso não se deve tomar mais de quatro cafés ao dia. Um consumo elevado de cafeína pode interferir nos padrões de sono, causar problemas digestivos ou desequilíbrios na pressão arterial.
Estudos recentes e mais bem elaborados que os iniciais não encontraram relação entre o café e o aparecimento de câncer, inclusive vinculam seu consumo e seus antioxidantes a diferentes benefícios para a saúde e um menor risco de desenvolver alguns tipos de câncer, sendo eliminado da lista de possíveis carcinogênicos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nenhum estudo conseguiu tampouco relacionar, convincentemente, a acrilamida do café como um fator de risco. Como a maioria dos resultados encontrados se baseia em estudos observacionais, são necessárias mais pesquisas para entender melhor a relação dose-resposta entre tomar café e seus benefícios. Os resultados de uma avaliação de 2018 de Nutrimedia, projeto do Observatório da Comunicação Científica (OCC-UPF) em colaboração com o Centro Cochrane Iberoamericano (CCIb), mostram que os resultados das pesquisas disponíveis têm um grau de certeza muito baixo e que, portanto, é incerto ou duvidoso afirmar que o café é benéfico para a saúde. Esses estudos indicam que consumir três ou quatro xícaras diárias, em comparação com não tomar nada de café, produz um efeito mínimo na redução do risco de morte e de doença cardiovascular; da mesma forma, mostram que um consumo elevado de café, em comparação com um baixo consumo, tem um efeito mínimo na redução do risco de desenvolver um câncer.
Atualmente não existe nenhuma evidência que relacione o consumo, dentro da quantidade diária permitida, de qualquer dos aditivos aprovados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar com um maior risco de desenvolvimento de câncer ou interações durante o tratamento.
Hoje ainda continuam surgindo notícias que relacionam os aditivos alimentares com inúmeros efeitos adversos para a saúde, como alergias, disbiose intestinal, maior risco de desenvolver câncer ou interações com os tratamentos oncológicos, gerando certa incerteza sobre sua segurança e fazendo com que muitas pessoas os evitem.
A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) verifica a segurança dos aditivos alimentares com uma avaliação muito exaustiva, periodicamente, tendo finalizado a última avaliação em 2020. A letra E indica que o alimento foi aprovado e é seguro para o consumo humano. Portanto, os alimentos que contêm aditivos alimentares podem fazer parte de uma alimentação saudável e equilibrada. Ainda assim, uma alimentação saudável é aquela baseada em alimentos frescos, locais e da estação, e que possuam pouco ou nenhum processamento, sobretudo sem alimentos ultraprocessados; dessa forma, o consumo de aditivos deve ser muito baixo.
Os aditivos alimentares são substâncias adicionadas intencionalmente aos alimentos para exercer funções tecnológicas: dar cor, melhorar a textura, adoçar, ajudar a conservar, entre outras. Existem diferentes tipos e sempre devem constar na lista de ingredientes, indicando a função que desempenham no alimento. A evidência científica dos efeitos negativos dos diferentes aditivos alimentares é ampla, mas frequentemente pouco comprovada. Por isso a EFSA submete os aditivos alimentares a uma avaliação muito exaustiva, na qual se estabelece um consumo diário permitido para cada um deles (estimativa da quantidade de substância que uma pessoa pode ingerir ao dia durante toda a vida sem que chegue a representar um risco apreciável para sua saúde).